Como surgiu o futebol? - Parte 4 - La Soule

09/07/2022


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É de uma palavra do franco antigo "keula," que significava "cavidade", "abóbada" e "objeto redondo" que surge a raíz da palavra soule (ou choule), nome de um jogo de bola que nasceu no noroeste da França, nas regiões da Normandia, Bretanha e Picardia. 

O soule esteve sempre associado às festividades e às raízes pagãs do jogo. Jogado em dia de festa, no Carnaval, nos Santos Padroeiros, no Natal e Páscoa, em casamentos e outras cerimónias religiosas, o jogo desde cedo interessou à igreja que assim, como em tantas outras manifestações de cultura popular, "despiu" o jogo de simbologia e significado pagão.  

As origens deste jogo são um mistério, mas estudiosos apontam o harpastum romano como o possível culpado do surgimento do jogo. Durante séculos, os legionários romanos estacionados nesta região da Gália jogariam esse jogo de bola e quando os romanos partiram, entre os diversos legados que deixaram na região, contava-se o jogo.

Outros defendem raízes nórdicas para o soule, referindo-se ao knattleikr dos vikings da Islândia, diversas vezes mencionado nas "Íslendingasögur" (As Sagas Islandesas) que teriam chegado às costas francesas pelas mãos dos guerreiros nórdicos, que ali ficaram conhecidos como normandos (homens do norte) e que fundaram o seu reino, a Normandia.

Seja certa a raíz latina ou nórdica, a verdade é que na região existia já um substrato cultural que não podemos esquecer. Bem antes da chegada dos romanos já há muito as tribos celtas habitavam os dois lados da Mancha.

Apesar de não haver referência a um jogo de bola céltico no período pré-romano, as evidências demonstram que no "universo celta" durante a Alta Idade Média surgiram diversos jogos de bola pelas Ilhas Britânicas como o Caid irlandês, o Hurling na Cornualha (Inglaterra), o Ba Game na Escócia e o Cnapan em Gales, todos eles podem ser tidos como antepassados do futebol.

  

Regras



As regras do jogo eram simples. Duas equipas, normalmente de duas paróquias diferentes disputavam a partida. A bola, feita com a bexiga de porco e coberta com pele, podia ser chutada, pegada com as mãos ou empurrada com paus. Durante vários anos o tamanho da bola ia crescendo de tal maneira que surgiram leis para impedirem que a bola ultrapassasse determinado tamanho.

Em 1412 um conjunto de regras estabelecia que a soule teria que ser suficientemente pequena para caber na mão de um jogador. O objetivo do jogo seria trazer a bola (a soule) de volta para o adro da igreja da paróquia da equipe, para o centro da praça da aldeia ou até para dentro de uma casa escolhida para tal fim.

Outras balizas (ou metas, ou traves) seriam uma parede, um rio, dois postes, um muro ou até um sulco traçado no terreno. O número de participantes não estava definido, tanto podiam ser 20 como 200, chegando a confrontar aldeias inteiras em jogos que podiam demorar um ou vários dias. Em algumas ocasiões o jogo podia ser disputado por três times o que o tornava ainda mais confuso e violento. Em Auray, há um registro de uma partida de soule em que participaram 16 paróquias para um número calculado de 500 jogadores. 

A violência do jogo está documentada pelas muitas testemunhas que descreveram sobre as partidas que presenciaram. "Os exércitos não fazem mais do que um, pois misturam-se, oprimem-se e machucam-se. Na superfície deste impenetrável caos, vêm-se mil cabeças a agitar-se, como as ondas de um mar furioso, e escapam-se gritos inarticulados e selvagens [...] Ninguém se dá conta do princípio: de tal modo é a embriaguez do combate que põe fora de si os frenéticos lutadores".


Proibição e declínio



A violência do jogo incomodava as autoridades que com o passar dos anos foram legislando sobre a matéria. Os reis de França chegaram a proibi-lo, mas a Bretanha como estado independente que era, manteve a tradição, tornando-se na casa e reduto do soule.

Na Idade Moderna o jogo começou a perder a sua popularidade, acabando por quase cair em desuso no fim do século XIX. A Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra Mundial acabaram com a popularidade do mesmo, que só voltou a renascer nos anos 90, voltando a ganhar alguma popularidade no século XX.

Hoje em dia, o Soule é recriado em feiras e festas locais, tanto na Bretanha como na Normandia e Picardia, para deleite dos locais e dos muitos turistas.


  

Anúncio público da interdição do jogo da soule no departamento de Morbihan na Bretanha.
Anúncio público da interdição do jogo da soule no departamento de Morbihan na Bretanha.

Referências Bibliográficas